sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Dois bêbabos, duas almas

Um bar na noite de sábado e o barulho incessante das conversas vazias e dos copos tilintando, ou pelo brinde a ser feito, ou para chamar a atenção do garçom descuidado que os deixou vazio. Em uma mesa os risos podem ser ouvidos por quem dobra a esquina. Em uma outra, as confissões que jamais seriam feitas sem aquelas doses de whisky que arruinaram pra sempre a vida de dois. A rotina do lugar onde os outros vão pra fugir da rotina se repete. Os dramas de outros rostos enchem agora novos copos. E era assim. Tudo igual.
Mas dessa vez dois homens com a pureza de dois bêbados andavam em direção ao que parecia ser a única mesa vazia do lugar. Provavelmente já haviam sido expulsos de outros bares pela cidade. Parece ainda uma cena normal para esse tipo de ambiente. Mas certamente o que vi naqueles olhos (nos dois pares de olhos caídos pela bebedeira) não era nada, nada rotineiro. Nada que os meus olhos tenham visto, pelo menos. Não pude deixar de repará-los pelo resto da noite. A conversa entre aquelas duas almas parecia ser interminável. Sim, porque não conversavam de corpo a corpo. Suas almas é que mantinham o contato. Suas almas é que se abriam sem nenhum pudor ou medo. E seus corpos não poderiam controlar porque suas almas fortes e mais do que tudo sedentas pela compreensão que só encontraram umas nas outras estavam dispostas a demorar o tempo que fosse preciso até que ficassem limpas de novo. Pobres almas que quando finalmente desistiram de dizer qualquer coisa pelo bem de quem ouvisse foram desafiadas a se abrirem. E uma vez que fizeram, jamais foram capazes de se fecharem de novo. Porque agora não estavam sozinhas. Aquelas duas almas eram uma só.
Nunca soube o que é que descutiam ou o rumo que tomou toda aquela conversa que para os ouvidos ao redor era apenas papo sem cabeça fruto das algumas tantas doses que ninguém conseguiu contar. Mas sei que não era só isso. Sei que presenciei algo raro. Algo que talvez nunca mais volte a acontecer em meu campo de visão. Aquelas almas provavelmente não sairão da minha memória e agora que estão prontas pra fazerem coisas inacreditáveis (graças ao que fizeram por si mesmas) eu sei que ainda ouvirei falar sobre elas.

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