sábado, 23 de junho de 2012

E a gente achava que era brincadeira amar de verdade... 

         A rua estreita era preenchida pela ciranda das crianças e pelos risos soltos. Elas corriam, corriam, giravam até o mundo virar uma mancha colorida de tontura. Era bonito de ver os olhinhos brilhando tanto que dava pra pegar no ar a pureza dos corpinhos. Os pezinhos descalços, sujos de asfalto sustentavam a grandiosidade das almas pequeninas. Livres. 
         A ciranda era levada pelo menino. O menino mais bonito. Ele estava de um lado da roda. E a menina olhava pra ele bem de frente assim. Olho dela colado no olho dele pra prender ele pra sempre no olhar, pra prender ele pra sempre na cabeça. E mais que tudo, pra prender ele pra sempre no coraçãozinho de traços tortos que ela desenhou numa carta de amor que era pra ele. Era a carta-coração pra ele e só dele. 
         O menino olhava fundo a menina quando ela achava que ele nem notava nunca. Ele olhava lá, só percebendo o olhar da menina. Quando ele nem mais viu, a menina era dele toda. A cartinha de amor e o coração foram entregues e eram do menino só pra ele tomar de conta. 
         A menina queria dar a mão pro menino e fazer a ciranda de dois e deles. Ela queria toda a rua estreita pra eles. Juntinho olho dele e olho dela, mão dele e mão dela pra eles dois juntos assim rodarem, rodarem, rodarem e depois... rir só.

E de tanto querer se fez...

         A menina fechou os olhos como para conseguir acreditar que ele e ela estavam na ciranda um com o outro. Fechou forte e pediu pra estrela não deixar ir embora não. Ela segurou forte a mão do menino e gravou bem na fotografia a roda de dois só. Foi daí então que eles ficaram tontos que dói. Os pezinhos nem aguentavam mais aquela tontura estranha da ciranda. 
         Eles caíram e a tontura ficou e ficou e ficou. A menina disse que parecia que a ciranda não passou mais nunca.  
       Menino se foi lá pro fim da rua estreita onde a menina não pode ir. Enquanto isso a menina fica na calçada a chorar porque o menino não quer mais não brincar de ciranda.

E a tontura que não passa...