E a gente achava que era brincadeira amar
de verdade...
A rua estreita era preenchida pela
ciranda das crianças e pelos risos soltos. Elas corriam, corriam, giravam até o
mundo virar uma mancha colorida de tontura. Era bonito de ver os olhinhos
brilhando tanto que dava pra pegar no ar a pureza dos corpinhos. Os pezinhos
descalços, sujos de asfalto sustentavam a grandiosidade das almas pequeninas.
Livres.
A ciranda era levada pelo menino. O
menino mais bonito. Ele estava de um lado da roda. E a menina olhava pra ele
bem de frente assim. Olho dela colado no olho dele pra prender ele pra sempre
no olhar, pra prender ele pra sempre na cabeça. E mais que tudo, pra prender
ele pra sempre no coraçãozinho de traços tortos que ela desenhou numa carta de
amor que era pra ele. Era a carta-coração pra ele e só dele.
O menino olhava fundo a menina quando
ela achava que ele nem notava nunca. Ele olhava lá, só percebendo o olhar da
menina. Quando ele nem mais viu, a menina era dele toda. A cartinha de amor e o
coração foram entregues e eram do menino só pra ele tomar de conta.
A menina queria
dar a mão pro menino e fazer a ciranda de dois e deles. Ela queria toda a rua
estreita pra eles. Juntinho olho dele e olho dela, mão dele e mão dela pra eles
dois juntos assim rodarem, rodarem, rodarem e depois... rir só.
E de tanto querer
se fez...
A menina fechou os olhos como para conseguir
acreditar que ele e ela estavam na ciranda um com o outro. Fechou forte e pediu
pra estrela não deixar ir embora não. Ela segurou forte a mão do menino e
gravou bem na fotografia a roda de dois só. Foi daí então que eles ficaram
tontos que dói. Os pezinhos nem aguentavam mais aquela tontura estranha da
ciranda.
Eles caíram e a tontura ficou e ficou e
ficou. A menina disse que parecia que a ciranda não passou mais nunca.
Menino
se foi lá pro fim da rua estreita onde a menina não pode ir. Enquanto isso a
menina fica na calçada a chorar porque o menino não quer mais não brincar de
ciranda.
E a tontura que não passa...
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