quarta-feira, 29 de agosto de 2012


             Perdi o toque, a sensibilidade. Perdi a vontade, o tom. Perdi as cores. E tudo isso achei que tivesse um dia. É como se o amarelo se descobrisse azul. E o branco se descobrisse todas as cores. É como a descoberta do sentido na alma do surrealismo. E ainda assim é como o nada mergulhado nele mesmo.
             Fora assim. E continua sendo, agora. Rio do que escrevo como se falasse comigo mesma. Como se eu própria me ridicularizasse. Pois nem da minha alma, que penso ser de fato minha, tenho piedade. Nem tanto sei mais como é olhar-se e sentir-se ou sentir coisa alguma.
            Há tempos não lembrava a sensação de ver o dedo correr atrás das letras dispersas pra transformar tudo quanto há em mim. Não lembrava que é sempre isso que me falta. Esquecera da vontade imensa, do anseio imenso, do quase vício de dizer o que não vejo, mas sei que está. E está em mim. E está vivo. E me percorre as veias tomando-me conta. A culpa é desse corpo que vive a ignorar a própria alma.