quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Folhas em branco e tempestades

De repente sinto uma tempestade se formar dentro de mim. Incessante. Indomável. Quer sair. Quer sair da maneira que for. Como se aqui fora tivesse uma missão inadiável. Não encontra a saída. Eu não sei mostrar o caminho. Ela, mais furiosa do que nunca, forma tornados, manda raios e trovões, destroi meu interior. Ela procura. Eu, cansada do transtorno, procuro. Procuramos. Incansavelmente. Incansável procura. Fecho os olhos como para encontrar a solução. Me deparo com um cenário. Uma luminária acesa em cima de uma mesa. Folhas e mais folhas espalhadas. Uma caneta em cima da bagunça. Uma cadeira vazia. Corro para chegar a cadeira como se ela de alguma forma pudesse deter o horror que se passava. Aparentemente ela me esperava. Sentei-me. Encaro aquela cena por alguns minutos. Espero, muda, pela calmaria. A tempestade continua rugindo em mim. Talvez correr não tenha adiantado. Ainda tinha em mim o enorme peso de uma tempestade gritante. Horripilante. Pego a caneta, ainda esperançosa. Sinto que ela também me esperava. Na verdade, tudo ali estava a minha espera. Tudo aquilo era meu. A cadeira era minha. A luminária era minha. A caneta, o papel, o mundo era meu naquele instante. Escrevo minha primeira palavra: "Quero". Sinto a fúria se esvaindo. Estranhamento. Continuei: "agora". Novamente a tempestade se calara. Percebi, então. Minhas mãos agarraram com força a caneta que decididamente fazia com que, gota por gota, meu coração tranquilizasse.
Descobri, aí, uma paixão. Uma paixão que liberta. Uma paixão que como as outras paixões não exige sanidade. Exige que se sinta. Exige que se entregue. Exige tão somente folhas em branco e tempestades.

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